Por que o cinema está chegando ao fim?

Ideia Crítica
3 min readMar 7, 2023

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Vamos admitir, os filmes não são mais como costumavam ser. Se compararmos as películas de décadas passadas com os lançamentos dos últimos anos, podemos perceber que, de uma forma geral, o cinema vem sofrendo uma decadência. Até grandes cineastas de Hollywood como Martin Scorsese e Ridley Scott já demonstraram certo desprezo pelo que a sétima arte está se tornando. Isso não significa que não existam grandes filmes sendo lançados atualmente, porém, acontece que eles são cada vez mais a exceção no cenário do cinema mundial. Mas enfim, qual o motivo?

O cinema é uma indústria, logo, busca sempre o lucro. Portanto, em um mercado que é cada vez mais disputado pelo enorme volume de entretenimento que temos disponíveis ao nosso redor, as produtoras focam na viabilidade e retorno de seus investimentos. Assim, não existe mais espaço para a criatividade no cinema, pois ninguém aposta mais em filmes com roteiros e ideias diferentes. Em Hollywood só há espaço para aqueles que darão retorno, ou seja, as franquias, remakes e os pastiches.

O cinema não se trata mais de arte, mas sim de consumo e por trás de todos os seus efeitos especiais ele vende algo muito mais perigoso para a sociedade — conformidade. Segundo Adorno e Horkheimer em Dialética do Esclarecimento, a Indústria Cultural é um fenômeno que visa perpetuar a dominação cultural da classe dominante através de bens culturais que promovem a alienação da sociedade. E a massificação e comercialização de filmes é uma manifestação disso. Através da homogeneização cultural, os filmes se tornaram vazios, repetitivos e sem originalidade, assim como seus espectadores. Com a desvalorização da arte, que é uma forma de expressão individual e de pensamento crítico fundamental, o sujeito se torna cada vez mais superficial e adequado aos valores e normas que a sociedade o impõe.

Atualmente, existe uma grande dificuldade de estabelecermos nossa própria individualidade, porque somos cada vez mais inundados de imagens e narrativas que nos apresentam um determinado modo de ser e de agir. Diante dessa falta de expressão individual, nossa cultura está se enfraquecendo, pois ao invés de criar está apenas copiando. Segundo Fredric Jameson, em Pós-Modernismo — A Lógica Cultural Do Capitalismo Tardio, o pastiche é um reflexo de nossa sociedade e cultura pós-moderna — através da recombinação de elementos e formas culturais do passado, o pastiche cria um objeto fragmentado sem autenticidade, e o mesmo podemos pensar de nós como indivíduos. Diante disso, vivemos em um eterno retorno ao passado. Sem a possibilidade de construirmos subjetividades únicas, não existe inovação e criatividade, nada de novo.

Apesar de tudo, ainda existe esperança para o cinema. Por meio de obras independentes e alguns cineastas alternativos que conseguem vender suas ideias para Hollywood, ainda podemos sentir o valor do que o cinema representava e encontrar resistência diante do que a indústria hegemônica se tornou. Mas claro que isso não nos impede de nos divertirmos vendo aquele blockbuster tosco de vez em quando. No final das contas, o cinema se trata de contar uma história e nos engajar com ela, de preferência que valha o nosso precioso tempo.

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