Por que o cinema está chegando ao fim?
Vamos admitir, os filmes não são mais como costumavam ser. Se compararmos as películas de décadas passadas com os lançamentos dos últimos anos, podemos perceber que, de uma forma geral, o cinema vem sofrendo uma decadência. Até grandes cineastas de Hollywood como Martin Scorsese e Ridley Scott já demonstraram certo desprezo pelo que a sétima arte está se tornando. Isso não significa que não existam grandes filmes sendo lançados atualmente, porém, acontece que eles são cada vez mais a exceção no cenário do cinema mundial. Mas enfim, qual o motivo?
O cinema é uma indústria, logo, busca sempre o lucro. Portanto, em um mercado que é cada vez mais disputado pelo enorme volume de entretenimento que temos disponíveis ao nosso redor, as produtoras focam na viabilidade e retorno de seus investimentos. Assim, não existe mais espaço para a criatividade no cinema, pois ninguém aposta mais em filmes com roteiros e ideias diferentes. Em Hollywood só há espaço para aqueles que darão retorno, ou seja, as franquias, remakes e os pastiches.
O cinema não se trata mais de arte, mas sim de consumo e por trás de todos os seus efeitos especiais ele vende algo muito mais perigoso para a sociedade — conformidade. Segundo Adorno e Horkheimer em Dialética do Esclarecimento, a Indústria Cultural é um fenômeno que visa perpetuar a dominação cultural da classe dominante através de bens culturais que promovem a alienação da sociedade. E a massificação e comercialização de filmes é uma manifestação disso. Através da homogeneização cultural, os filmes se tornaram vazios, repetitivos e sem originalidade, assim como seus espectadores. Com a desvalorização da arte, que é uma forma de expressão individual e de pensamento crítico fundamental, o sujeito se torna cada vez mais superficial e adequado aos valores e normas que a sociedade o impõe.
Atualmente, existe uma grande dificuldade de estabelecermos nossa própria individualidade, porque somos cada vez mais inundados de imagens e narrativas que nos apresentam um determinado modo de ser e de agir. Diante dessa falta de expressão individual, nossa cultura está se enfraquecendo, pois ao invés de criar está apenas copiando. Segundo Fredric Jameson, em Pós-Modernismo — A Lógica Cultural Do Capitalismo Tardio, o pastiche é um reflexo de nossa sociedade e cultura pós-moderna — através da recombinação de elementos e formas culturais do passado, o pastiche cria um objeto fragmentado sem autenticidade, e o mesmo podemos pensar de nós como indivíduos. Diante disso, vivemos em um eterno retorno ao passado. Sem a possibilidade de construirmos subjetividades únicas, não existe inovação e criatividade, nada de novo.
Apesar de tudo, ainda existe esperança para o cinema. Por meio de obras independentes e alguns cineastas alternativos que conseguem vender suas ideias para Hollywood, ainda podemos sentir o valor do que o cinema representava e encontrar resistência diante do que a indústria hegemônica se tornou. Mas claro que isso não nos impede de nos divertirmos vendo aquele blockbuster tosco de vez em quando. No final das contas, o cinema se trata de contar uma história e nos engajar com ela, de preferência que valha o nosso precioso tempo.