O que seria da vida sem amor?

Ideia Crítica
3 min readJan 1, 2023

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duas cadeiras de praia no meio do campo
Foto de Elliott Erwitt, East Hampton, New York. 1987.

Sem amor, a vida perderia seu colorido, provavelmente nem existiria. Porque em sua proposta está muito mais do que um encontro de dois corpos tomados pela paixão. O resultado do amor é a criação — do que antes era um se tornar dois. Pelos nossos olhos experienciamos o mundo de maneira singular, mas com o encontro de um ser que se torna nossa “metade da laranja” a experiência ganha valor universal. Com o amor aprendemos ser possível apreciar o mundo a partir da diferença, pois a partir do momento que seguimos nossa jornada ao lado de outro, nossos interesses e convicções deixam de ser a prioridade número um de nossas vidas.

Em tese, deveria ser assim, mas vivemos em tempos difíceis para o amor. Tomados por narrativas que nos conduzem ao hedonismo e a uma busca por nossa suposta identidade única, o que se entende por amor hoje em dia é encontrar alguém com os mesmos interesses e objetivos que nós, ou seja, continuar enxergando a vida a partir de um. Segundo Lacan, “não existe relação sexual”. Ao dizer isso, ele afirma que nossa realidade narcísica sustenta apenas nosso próprio gozo, que no corpo de outro buscamos apenas o nosso prazer individual. Quando observamos a formação de relacionamentos hoje em dia podemos encontrar verdade nessa declaração. Com a facilidade de encontrarmos um match que melhor se encaixe com nossas exigências — sejam elas físicas, intelectuais, sociais etc —, garantimos com segurança um encontro de dois corpos, mas dificilmente de dois seres humanos. O amor é o único que pode sustentar a relação de dois indivíduos, pois vai além dessa não relação sexual. Para superar nosso narcisismo, somente ele permite ir além do Eu e nos proporcionar a chance de encontrar um ser no outro, viver uma existência como dois, não apenas um.

Mas nessa busca pelo amor podem existir momentos de dor e desilusão que nos impeçam de seguir a jornada como dois. E apesar de existirem motivos genuínos para que isso aconteça, a tendência moderna é que a chance de amor se desfaça diante das minímas desavenças. Segundo Zygmunt Bauman, em nossos tempos modernos o amor tem se tornado líquido, algo frágil e que pode ser facilmente substituído diante das adversidades. Em um mundo que nos oferece cada vez mais praticidade e velocidade, exigimos um amor que seja dinâmico e adaptável. Porém, diante dessa tendência moderna de abandonar tudo que é difícil, jamais contemplaremos o amor, porque ele não é e nem deveria ser ago fácil. Alain Badiou em seu livro Elogio ao Amor apresenta o amor como uma aventura obstinada, segundo ele o amor verdadeiro é aquele que triunfa de maneira duradoura aos obstáculos apresentados pelo espaço e tempo.

O mundo de hoje nos apresenta como singularidades que circulam ao redor do globo, mas a verdade é que ninguém se sustenta por si só, a humanidade só existe por meio da multiplicidade de encontros. Quando aquele que era um passa a ser dois temos uma revolução, a possibilidade de um novo mundo. Portanto, neste momento de renovação desejo a todos que nossa nova volta sob o sol seja de paz, saúde, felicidade e, principalmente, muito amor.

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